Várzea Queimada é um dos povoados com menor Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil, uma região que sofre com o chamado balanço hídrico negativo, estando em processo de desertificação. Espaço Casa de Carnaúba, em Varzea Queimada, zona rural de Jaicós no Piauí
Arquivo pessoal / Marcilene Barbosa
Um projeto entre o arquiteto e designer Marcelo Rosenbaum e uma empresa de soluções isotérmicas para a construção civil construiu no sertão piauiense uma casa para a Associação de Mulheres Artesãs de Várzea Queimada, em Jaicós, a 361 km de Teresina, uma casa com conforto térmico, que diminui a temperatura interna em até 7 °C em comparação com a área externa.
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As artesãs trabalham com a extração, secagem e obtenção do pó da palha de carnaúba (palmeira típica da região). Várzea Queimada é um dos povoados com menor Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil, uma região que sofre com o chamado balanço hídrico negativo, estando em processo de desertificação.
“Antes do espaço, a gente trabalhava em locais que não eram adequados. Além do intenso calor, que chegava a causar irritações na nossa pele, o vento levava quase todo o pó, porque não tínhamos um local protegido para a secagem. As impurezas também contaminavam o resultado”, explica Marcilene Barbosa, presidente da associação.
Segundo Siegfried Wagner, diretor de marketing da empresa que doou a cobertura do Espaço Casa de Carnaúba, até 70% do aquecimento das construções vem da cobertura. Diante da história das artesãs e da localização que é no sertão do Piauí, elas receberam uma cobertura com isolamento térmico, sendo 2/3 com telhas térmicas que filtram a incidência solar e 1/3 com telhas translúcidas com alta eficiência na passagem da luz solar e, ao mesmo tempo, com isolamento.
“As telhas isotérmicas são importadas da Irlanda e são capazes de reduzir a temperatura interna em até 7 °C e dessa forma, as artesãs de Várzea Queimada ganharam mais qualidade de vida, produtividade e dignidade no trabalho”, afirma Siegfried.
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A construção recebeu o nome de Espaço Casa de Carnaúba, parceria entre a empresa de soluções isotérmicas e o arquiteto Marcelo Rosenbaum. Cofundador do Instituto “A gente transforma”, o arquiteto já tinha uma parceria com a comunidade de artesãs desde 2011.
Ao todo, foram dois anos de planejamento e seis meses para conclusão da obra. Em dois ambientes circulares e interconectados, a estrutura abriga as atividades de extrativismo do pó de carnaúba e estocagem da palha da carnaúba para artesanato.
Associação de mulheres
Ao todo são 90 artesãs na comunidade de Várzea Queimada, 28 delas são sócias da associação. Antes do Espaço Casa de Carnaúba elas trabalhavam em locais improvisados e depois conseguiram a casa mais antiga do povoado como sede.
“Antes a secagem da palha era no solo, o que fazia com que o pó se misturasse com muitas impurezas e também causava muitas dores na coluna. Depois da obra, não tem terra solta, a qualidade é outra, tanto do material porque não fica muito tempo exposto ao sol, como diminuiu também nossa exposição ao sol. Poeira e terra agora é o mínimo possível porque seca no varal”, afirma Marcilene.
O espaço novo foi inaugurado em setembro de 2023, há um ano as mulheres trabalham em um local com qualidade melhor do ar, com ventilação e menor aquecimento. Para secagem da palha, o processo que antes durava cinco dias, agora dura dois.
Várzea Queimada
Várzea Queimada, na zona rural de Jaicós, no sertão do Piauí, possui 900 moradores. A comunidade chama a atenção por um motivo bastante peculiar: a quantidade de pessoas surdas que nascem lá. Até agora, são cerca de 40. E, para se comunicar, eles desenvolveram uma língua própria: a Cena.
O povoado fica localizado na Chapada do Araripe que é um acidente geográfico e sítio paleontológico localizado na divisa dos estados do Ceará, Pernambuco e Piauí.
A história de Várzea começa, segundo Marcilene, presidente da Associação de Mulheres Artesãs, começa com João Raimundo Barbosa, um vaqueiro da Paraíba que casou com Joana Carvalho, filha do coronel que mandava nas terras do sertão piauiense. O romance não era aceito pelo pai da noiva.
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Juntos, iniciaram a comunidade numa região habitada por índios, expulsos pelos coronéis que trouxeram escravos negros. A história conta que o casal teve um filho que nasceu surdo-mudo e população viu como castigo pelo amor proibido entre os dois.
Hoje em dia, uma em cada vinte e cinco crianças nasce com surdez. Segundo a pesquisadora Karina Mandelbaun, doutora em genética pelo Hospital das Clínicas de São Paulo, é a genética que explica esse fenômeno.
O isolamento da comunidade fez acontecer uma alta quantidade de casamentos entre primos. Assim, os genes que causam a surdez foram bastante replicados em Várzea Queimada.
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